Crato, 8 de junho de 2025
Volta ao Trabalho
Domingo, quase segunda. Hora de voltar ao trabalho de escritor.
Claro que esse trabalho se confunde com o lazer. Eu nunca paro de escrever. Mas tem momentos em que escrevo sem me preocupar com mais nada, e tem momentos — como agora — em que penso: "tenho que escrever para ver se o povo que me lê me ajuda a pagar minha conta de luz."
Aprendi a ler e escrever no escuro nessa minha jornada, mas um computador e uma lâmpada funcionando ajudam um bocado.
Pix: diegosergioadv@gmail.com
Missa, Pentecostes e Judô
Agora há pouco eu estava na missa, do lado de fora da catedral — que continua fechada.
Dia de Pentecostes, que significa cinquenta dias. A Páscoa acabou — essa Páscoa com troca de Papa — e voltou o Tempo Comum.
No final da missa, o padre contou que o processo para beatificação de Padre Cícero está quase concluído e pronto para ser enviado ao Papa.
Essa semana, no judô, aprendi a técnica mais difícil do ano: o hane-makikomi. Ainda faltam algumas semanas para o exame de faixa e os riscos continuam — tudo na vida tem riscos —, mas esta semana particularmente perigosa foi vencida com pouquíssimos machucados.
Fernanda Torres, Cinema e Reflexão
Como todos sabem, alguns brasileiros — Fernanda Torres e seus companheiros — ganharam um Oscar recentemente, por um filme chamado Ainda Estou Aqui.
Ainda não assisti, mas sei que essa mesma turma, também liderada por Fernanda Torres — que não é diretora nem produtora, que eu saiba — já havia lançado há alguns anos o filme O Que É Isso, Companheiro?
Eu ainda não tinha assistido. Ou talvez só a parte quatro, num dia que estava passando na Globo.
Este fim de semana, separei duas horas e disse: "hoje vou assistir de um fôlego só."
Quando deu treze minutos de filme, desliguei e fui pensar no que tinha assistido.
Terminei não conseguindo voltar.
Mas sei que em dado momento peguei meu lápis da Faber-Castell e escrevi, em uma folha pautada de quatro furos:
"O fliperama foi uma criação da burguesia capitalista para viciar e extorquir a classe trabalhadora."
Sobre Política e o Judô no Escuro
Eu não sei qual é meu posicionamento político.
Existem robôs que analisam o Twitter e dizem se você é de esquerda ou direita — e eu uso muito o Twitter —, mas todas as vezes que rodei esses testes, os tais robôs não souberam me definir.
Pois eu também não sei. Mas, depois de assistir treze minutos daquele filme, me deu vontade de escrever uma frase em “língua de comunista”.
E a partir dessa frase, vou explicar um pouquinho do meu projeto: Judô no Escuro.
Uma Jornada de Adaptação
Eu estudo japonês diariamente e não sei quase nada ainda. Mas me atrevo a traduzir palavras importantes do meu próprio jeito.
Tem uma professora de japonês nas redes sociais que responde perguntas de um menino perguntador. Em um dos vídeos, ele pergunta:
"Sensei, o que significa judô?"
Nessa hora, o menino lascou a veia.
Ela não soube responder direito. Disse que a tradução mais conhecida, “caminho suave”, parte de uma metáfora de uma árvore se dobrando para resistir ao vento — mas que esse exemplo não é suficiente para descrever o kanji ju.
O ju tem a ver com lidar com os desafios da forma que for necessária, não simplesmente sendo suave.
A boa professora não soube explicar completamente porque não pratica artes marciais.
Mas Bruce Lee tentou — e talvez tenha conseguido de forma mais ousada. Ele disse:
“Seja água.”
“Absorva o que é útil, descarte o que não é e acrescente algo seu.”
Eu, presunçoso como sou, acrescento:
“Seja Lego.”
“Se adapte.”
Judô no Escuro = Jornada de Adaptação no Escuro
Voltando à palavra judô, eu ouso traduzir como: Jornada de Adaptação.
Logo, “Judô no Escuro” pode ser entendido como: Jornada de Adaptação no Escuro.
Entre o Fliperama e a Ilíada
Certo. Voltando à frase em “língua de comunista”. O que ela está dizendo?
Que o fliperama foi criado por pessoas que queriam ganhar dinheiro — não fazer o bem.
Aí vou contar outra coisa que aconteceu comigo essa semana.
Fui para a Praça da Sé e fiquei trabalhando lá, num banco. Escrevendo com caneta Bic preta em uma folha pautada com quatro furos, de uma marca que não me lembro.
Quando cheguei em casa, tirei uma foto e mostrei para o “Chat Não Sei o Quê PT” — que transcreveu para o digital e conversou comigo sobre.
Depois dessa pequena experiência, concluí que o auge do meu desempenho como escritor ou advogado — ou seja lá o que eu sou — acontece quando estou conectado ao mundo digital e à internet.
Mas, para manter esse desempenho, tenho que eventualmente me desconectar e ir para o analógico. Sem internet.
A Ilíada e a Tradição do Escuro
Depois dessa percepção, decidi retomar meu exemplar da Ilíada, de Homero, escrita em português de Portugal, e continuar do lugar onde parei anos atrás.
Estou lendo A Ilíada em voz alta — o que é muito difícil — e tinha parado no Canto XVII, que é provavelmente o mais chato de todos.
Terminei esse canto esta semana e comecei o XVIII. Ao todo são vinte e quatro.
A Ilíada e A Odisseia têm tudo a ver com meu blog Ler no Escuro e com o projeto Jornada de Adaptação (Judô) no Escuro. Por quê?
Por vários motivos. Mas o principal que quero destacar aqui é que a tradição diz que esses dois livros foram compostos por um autor cego.
Esse convite a ler, recitar ou ouvir imaginando que o autor era cego é um convite a ler, recitar ou ouvir no escuro.
Algo que já instigava os antigos — e nos instiga ainda mais hoje.
Temos acesso a muitas ferramentas de leitura e escrita, e a maioria de nós enxerga.
Mesmo que você tenha todas as ferramentas para ler e escrever no claro, a Ilíada lhe convida a tentar se colocar no corpo daquele poeta que escrevia no escuro.
A Criação das Ferramentas
Mas... e a frase em língua de comunista?
A Ilíada e A Odisseia, a exemplo do fliperama, também foram criadas pela classe dominante para explorar a classe dominada.
Ou seja: criadas pelos ricos para extorquir os pobres.
Essas obras tinham uma função muito simples para os que as encomendaram — não para os artistas que as compuseram:
Fazer o pobre, o lascado, achar que, assim como os heróis respeitam o deus Zeus — um adúltero sem vergonha —, os pobres devem respeitar os ricos.
Subverter o Uso
Então é isso.
Tanto a Ilíada e A Odisseia quanto o fliperama foram criados como ferramentas para prejudicar os mais pobres.
O que podemos fazer depois de descobrir isso? Queimar a Ilíada e a Odisseia? Quebrar nossos videogames?
Não.
Porque não importa a intenção de quem criou a ferramenta — importa o uso que a gente vai fazer dela.
Mesmo ferramentas criadas pelos ricos para extorquir os pobres podem e devem ser usadas pelos pobres para resistir.
Os Vagões: Homero e Fliperama
Para ilustrar como meu — ou nosso — projeto vai funcionar, vou dar um exemplo:
O Judô no Escuro vai ser um trem que se desloca até uma estação. Chegando lá, ele se divide em vagões.
Vamos imaginar uma viagem com dois vagões:
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Vagão Homero
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Vagão Fliperama
🎓 Vagão Homero
Nesse vagão, haverá exemplares da Ilíada e da Odisseia. O público vai aprender como se escrevia livros no tempo em que papel e caneta não se compravam na bodega.
Será explicado que naquela época as pessoas recitavam em versos e decoravam, depois repetiam por aí.
O convidado será desafiado a recitar um trecho em voz alta, primeiro lendo.
Se conseguir, vem a parte inspirada em um filme.
Um Hércules da Sessão da Tarde, besta, mas com uma cena boa:
Hércules treinava com bastão, sobre estacas de madeira.
O centauro Quíron chega e diz: "Muito bom. Agora faça de novo. Vendado."
No vagão Homero, a gente não precisa vendar ninguém. Basta desafiar a pessoa a recitar sem olhar o livro. Isso já é um tipo de escuro. Isso já é Ler no Escuro.
🕹️ Vagão Fliperama
Dependendo de como a pessoa se sair no vagão Homero, ela ganha fichas para jogar videogame no Fliperama.
A Lógica do Projeto
Entenderam a lógica?
Podem haver quantos vagões conseguirmos levar.
Talvez um dia com vagões realmente ligados ao judô, não apenas inspirados na sua filosofia.
Mas a lógica é sempre essa:
Os vagões desafiadores fornecem fichas. Os vagões prazerosos custam fichas.
Encerramento e Apoio
É isso.
Essa ideia ainda está no papel, ainda está no escuro — mas se vocês quiserem que ela veja a luz do dia, podem me ajudar com qualquer valor.
Pix: diegosergioadv@gmail.com
Porque, para desenvolver os vagões, vou precisar de apoio — inclusive financeiro.
Até.
Tenho aulas de Judô na Ikigai Dojô em Crato, Ceará e sou atualmente 3º kyu (faixa verde). Começo a cursar Educação Física na Urca em Agosto.
Saiu uma data de luta para mim, 4 de outubro. Mas tenho esperança de lutar antes.
Estou planejando um projeto de judô inclusivo chamado Judô no Escuro. Pretendo ir contando mais com o passar do tempo.
E-mail e Pix: diegosergioadv@gmail.com
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